Koistinen (3/3)
No último filme de Aki Kaurismäki, “Luzes no Crepúsculo” - terceira parte de uma trilogia iniciada por “Nuvens passageiras” e um “Homem sem passado”, sendo o primeiro filme sobre o desemprego e segundo sobre os desalojados - o actor Janne Hyytiäinen desempenha o papel de Koistinen , um guarda-nocturno que se vê seduzido por uma atraente mulher (Maria Järvenhelmi no seu papel). Sendo enganado por um grupo de criminosos, acaba por perder a liberdade, o emprego e também o sonho de se tornar um pequeno empresário no seu ramo, ao ser condenado por um crime que não cometeu.
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Koistinen representa o homem comum, que tenta melhorar a sua posição social num mundo sem oportunidades, mas que vê os mais poderosos negaram-lhe esse desejo, empurrando-o para a marginalidade.
Em Novembro passado, numa entrevista concedida ao jornal português Diário de Notícias - que poderão ler na íntegra via este link - o cineasta finlandês Aki Kaurismäki respondeu da seguinte forma a duas questões que lhe foram colocadas:
Uma personagem como a do guarda-nocturno Koistinen tem de ser credível, mas também tem de representar o homem comum, ser simbólica. Pensou nisso quando a concebeu, ou não liga a essas coisas?Eu concebo sempre uma ilusão de personagem a que o actor dá carne e osso. Tudo isso depende muito do actor, mais do que da personagem. Cito Buñuel: "Os meus filmes não têm simbolismos." Mas o Buñuel estava a mentir. Quanto a mim, não sei. Mas prefiro ter uma personagem que seja credível. E isso é com o actor. Escolho-os muito pelo rostos, pelo que conseguem mostrar do seu íntimo nos rostos.Como definiria a personagem de Koistinen? Muitos críticos chamaram-lhe "desgraçado" ou "pobre diabo". Mas não é, principalmente, um homem ingénuo e decente que acredita num mundo bom?E custa sê-lo (risos). Ele é um lutador, é difícil derrubá-lo. Quer fazer algo de útil e de bom na vida, melhorar a sua condição. É como uma personagem de Buster Keaton, nesse sentido. Quanto mais apanha, mais força tem ao levantar-se. Mas não tem sorte nenhuma.
A certa parte da entrevista é-lhe posta uma questão relacionada com a multinacional Nokia:
Os seus filmes têm um enquadramento realista, mas por outro lado contradizem- no. Não há carros, tecnologia moderna... Considera-se um cineasta "realista"?No que respeita a carros, sou o último romântico. Os carros modernos são muito feios, detesto-os, não posso mostrá-los. Nem que quisesse.E a tecnologia? Nasceu no país da Nokia, mas não há telemóveis nos seus filmes.A Nokia é, a 98 por cento, propriedade de fundos de pensões americanos. Não gosto dos tempos modernos. Gosto dos anos 50, do design desse tempo. E agora, também dos anos 60. E se viver mais uns anos, a década de 70, apesar de ter sido a mais feia de todas.
De facto, a Nokia é uma multinacional com uma maioria esmagadora de accionistas não-finlandeses, distribuídos por várias nacionalidades. Dentro das mais representativas estão os EUA, a Alemanha, o Reino Unido, a França e a Suíça.
As deslocalizações não são um problema de competição entre diferentes países ou entre trabalhadores de diferentes nacionalidades. São um problema de relação entre a classe trabalhadora e os grandes detentores do capital transnacional. A táctica utilizada sempre foi a mesma: dividir para reinar, dentro de fronteiras, agora através delas.
Que os novos heróis, produto do desemprego provocado pela globalização capitalista, consigam esquecer o passado, ultrapassar o presente e conquistar o futuro, com a mão solidária dos que nunca os deixarão cair.
Koistinen (1/3)
Koistinen (2/3)
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