Urgente recuperar modelo de organização de cidades do Sul da Europa
O director de programação e planeamento da Agência Ecologia Urbana de Barcelona, Francisco Cárdenas, deu uma interessante e elucidativa entrevista ao Jornal Público, da qual apresentamos uma síntese dos pontos que nos parecem mais relevantes:
Análise:
- Actual modelo: modelo de organização de cidade americana, onde o espaço público pertence aos automóveis privados. Ou há peões ou condutores: não há cidadãos.
- Urgente recuperar o modelo de organização de cidades do Sul da Europa - cidade compacta : modelo de uma cidade diversa e complexa, onde o espaço público é importante.
- Veículo privado, pouco a pouco tornou-se o dono das cidades ; dependência do veículo privado é a grande perversão das cidades actuais; planificadores passaram a desenhar as cidades a pensar neles.
- Na maioria das cidades médias e grandes, no Sul da Europa, cerca de 70 por cento do espaço público é para o veículo privado.
Propostas:
- Para que um carro não passe numa rua há muito poucas soluções. O estacionamento e as portagens já são utilizadas (estas de forma algo injusta); quarteirões - à volta deles seria possível circular, dentro não.
- Funcionalidade das cidades - Mas porque é que as cargas e descargas se podem fazer durante todo o dia?
- O transporte público tem de ter qualidade - frequência e cobertura - para ser competitivo.
- Em Barcelona, um distrito com 150 mil pessoas, só se tocou em 4% dos carros. O que se mudou é que os carros em vez de irem por onde querem, vão por onde foi definido.
Agência de Ecologia Urbana de Barcelona:
- Quando os arquitectos desenham uma casa pensam muito no conforto - as cores, a luz, a temperatura, o solo - no espaço público não se pensa nisso.
- Desenhar cidades como se desenham casas - conceitos de habitabilidade e de conforto têm de estar associados.
- Retirar os carros das cidades, é preciso levar as pessoas lá - tendência tem sido outra, com as cidades dormitório a aumentar. Expulsava-se a população para os arredores; e depois para os arredores dos arredores... e por aí adiante.
- A população irá regressar – talvez daqui a 5 ou 15 anos, mas voltará.
Barcelona:
- Nova rede de autocarros; implementação de um urbanismo em 3 planos: altura, superfície e subterrâneo; veículos podem - e devem - ocupar mais o subsolo para estacionamento; optimizar o consumo de energia.
- Agência de Ecologia Urbana de Barcelona desenvolve projectos por toda a Europa. Em Espanha, além de Barcelona e arredores, trabalha com Madrid e Corunha, por exemplo. Em Portugal, com vários municípios do eixo atlântico: Porto, Vila Real, Bragança.
Sustentabilidade em Portugal:
- É um modelo de cidade difusa, que não cria cidades, cria ajuntamentos urbanos. Em Portugal, o modelo das cidades difusas está implementado de uma maneira particularmente escandalosa. Em Espanha também.
- Políticos não têm a coragem de assumir o compromisso de projectos a longo prazo.
- Ao cidadão cabe a parte de reivindicar a cidade para si, de reivindicar o direito de sair à rua sem medo de ser atropelado, de poder caminhar numa cidade com qualidade de ar, sem ruído excessivo.
- Insustentável - em menos de 20 anos os recursos poderão acabar. Vive-se como se os recursos fossem infinitos, fazemos cidades como se a energia fosse infinita, como se a tecnologia resolvesse tudo.
- Olha-se para o PIB e parece que está tudo bem. Se se vendem mais carros, é possível que ele cresça.
- ”Há pessoas que aqui [aponta para a cabeça] a única coisa que têm é um automóvel.”